Imigração Italiana: Fatores de expulsão e atração

Imigração Italiana: Fatores de expulsão e atração

Afinal, por que os italianos emigraram da sua terra natal? Antes de começar a abordar esse assunto é preciso que você tenha em mente que não podemos julgar o passado trazendo nossa visão contemporânea, os motivos que levaram nossos antepassados a emigrar estão diretamente relacionados com o contexto em que viviam naquela época. 

Julgar o passado sob a nossa perspectiva se chama anacronismo e é um erro que muitos comentem e que vamos buscar evitar.

Fatores de expulsão: o que levou os italianos a deixarem seu país

Toda emigração parte de fatores de expulsão, fatores geográficos, sócio-econômicos, políticos, tecnológicos e culturais tiveram influência na tomada de decisão destes migrantes. 

É preciso entender que a Itália já vinha de um processo de declínio e reconstrução desde o fim do Império Romano, onde por séculos houveram conquistas de povos invasores e inúmeras divisões territoriais que deixaram marcas e moldaram a população. 

A vida na região que hoje compreendemos como Itália em meados do século XIX (1801 – 1900) não era fácil, a pobreza era generalizada, haviam muitas doenças, pouca higiene e péssimas condições sanitárias. 

Após a queda do Império Romano, com os constantes ataques de diferentes povos germânicos e árabes, houve um intenso processo de ruralização e miscigenação populacional, que já contava com remanescentes de povos gregos, persas, etruscos, romanos e tantos outros.  

A ruralização fez surgir pequenas comunidades, frações de terras localizadas próximas às cidades maiores. Até hoje a configuração italiana funciona desta forma, com frações, comuni (cidades), províncias e regiões.

Naquela época, a maioria da população vivia no contexto rural, eram camponeses pobres, analfabetos ou semi-analfabetos, tinham uma alimentação escassa e eram assolados constantemente por doenças. Como a Pelagra, uma doença derivada da má alimentação que em 1890 atingiu mais de 100 mil venezianos. 

A mortalidade infantil era altíssima e a expectativa de vida reduzida. 

A produção rural era pautada pelo clima e estações do ano, com invernos rigorosos onde não era possível produzir alimentos, aliados à baixa tecnologia agrícola, e a dificuldade de armazenagem e preservação alimentícia. 

Faltava comida, havia fome, pobreza, doenças e guerras constantes. 

Estes são alguns dos fatores de expulsão dos imigrantes italianos, onde também cabe citar a influência dos desastres naturais como terremotos, acontecendo na parte centro-sul da Itália e inundações no Vale do Rio Pó – principal rio do norte italiano. 

A cada terremoto e a cada inundação, uma leva de emigrantes com suas famílias e pertences se dirigiam aos portos, buscando uma saída para a vida sofrida que levavam. Há um intenso movimento migratório logo após estes desastres naturais. 

Outro motivo que levou os camponeses a partir massivamente da Itália foi a falta de oportunidade. 

Com gastos militares altíssimos durante a Unificação Italiana, havia pouco investimento no desenvolvimento econômico, além disso, a maioria das famílias de camponeses não eram donos das terras em que trabalhavam. 

Trabalhavam em um sistema de campesinato, para um senhor da terra que cobrava o “aluguel” com parte da produção. Eles não tinham nenhuma perspectiva de serem proprietários.

Com a industrialização européia e o crescimento populacional o trabalho do campo começou a ficar cada vez mais escasso. 

É neste contexto que viviam os italianos durante o período das grandes migrações, entre 1887 e 1902. 

Mais de 27 milhões de italianos emigraram, sendo que 1,5 milhões destes vieram para o Brasil. 

As guerras

Ao contrário do que muitos imaginam, não foi nem a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), nem a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os principais fatores de expulsão da grande massa de emigrantes italianos. 

A Itália vinha de um período de inúmeras batalhas pela Unificação Italiana, que foi um processo longo e custoso desde 1815 até 1919. Sim, a unificação do território que hoje entendemos como Itália só teve fim a pouco mais de 100 anos atrás – após a Segunda Guerra Mundial. 

Porém, as maiores batalhas aconteceram até 1870 com a anexação do Estado Papal e batalhas com o Império Austro-Hungaro, com os Reinos das Duas Sicílias e com o exército Francês pela tomada de Roma. 

Esse processo de unificação afetou principalmente o norte italiano, tendo o comando da família Savoia e a participação do famigerado Giuseppe Garibaldi à frente dos exércitos que conquistaram o Reino das Duas Sicílias.

O serviço militar era obrigatório e por isso eles são ótimas fontes de informação sobre as regiões onde os nossos antepassados viviam, pois desde o nascimento os homens eram cadastrados nas listas militares.

Então, ao mesmo tempo em que a população passava fome e não tinham expectativas de serem proprietários de terras, eles tinham que lutar pelo “seu” território.

Fatores de atração: porquê os italianos vieram para o Brasil

Se por um lado você tem os fatores de expulsão, de outro, direcionando o fluxo migratório, você tem os fatores de atração. 

É fato que a emigração italiana era algo desejável pelas autoridades do recém-formado Reino da Itália. 

Havia um acordo comercial entre as autoridades imperiais brasileiras e italianas, que impulsionaram a vinda dos imigrantes através de uma propaganda massiva feita por agentes públicos, privados e religiosos. 

Os agentes de imigração privados propagandeavam que no Novo Mundo as terras eram tão férteis que os alimentos eram gigantes como casas, que o dinheiro nascia em árvore e que as fontes jorravam vinho à vontade. 

Parece improvável que as pessoas acreditassem nessas falsas promessas, mas os imigrantes que eram pouco instruídos. Ao verem esses panfletos cheios de imagens incríveis, muitos acabavam sendo iludidos. 

Claro que diante do contexto em que viviam, bastava a promessa de serem donos das próprias terras, com terras férteis e cultiváveis o ano inteiro para atrair interessados. 

E diante da realidade em que eles viviam, podemos dizer que para muitos imigrantes – principalmente no sul – essa promessa foi cumprida.  

Tem um episódio narrado no livro Azambuja e Urussanga, escrito pelo Desembargador Vieira Ferreira, em que ele narra um momento vivido pelo pai durante a implantação da colônia Azambuja. Onde os imigrantes italianos ao chegarem nos lotes designados para a colônia, percebendo que se tratava de mata fechada e não de lotes prontos e férteis, revoltaram-se.

Porém, sem ter como voltar para a sua terra natal, acabaram cedendo e aceitando a ajuda dos nacionais para orientar a implantação da colônia. Puseram-se a trabalhar e a erguer as suas primeiras casas com troncos da mata cobertos com palha.

Política Migratória Brasil e Itália

A política migratória nasce de interesses conjuntos entre Itália e Brasil.

Para a Itália o objetivo da emigração era reduzir sua população para dar uma chance de crescimento econômico para aqueles que restassem por lá. 

Já o Brasil vivia a formação do seu Império, com muitas terras devolutas no sul, que precisavam de pessoas para ocupá-las e cultivá-las, gerando riquezas. Entenda riqueza como produção agrícola e a unificação do território.

Ao mesmo tempo em que a pressão pelo fim da escravatura colocava em xeque a produção das fazendas cafeeiras, com a ameaça de escassez de mão-de-obra a partir da libertação dos escravos. 

O processo da imigração em massa começou com o governo imperial, tendo colônias italianas famosas que pertenciam à Princesa Isabel e ao Conde d`Eu, e continuou nos primeiros anos da República.

Em 1894 quando houve uma redução no volume da imigração, pois este foi designado aos governos estaduais que não tinham recursos para trazer os imigrantes. Assim, apenas os estados mais abastados como São Paulo conseguiam continuar a trazer imigrantes. 

Este é o cenário formado do acordo entre a Itália e o Brasil, que permitiu aos nossos antepassados cruzar o Oceano Atlântico com seus poucos pertences em busca de uma nova vida. 

Desde o início, o Império brasileiro preocupava-se com a integração dos imigrantes aos nacionais.

Eles tinham receio de que a formação das colônias pudessem gerar guetos de italianos, que ao invés de contribuir para a unidade nacional, segregariam ainda mais o país. 

No livro Azambuja e Urussanga, destaca-se o papel importante do colono estrangeiro na formação nacional, para se tornarem parte da população brasileira, sem se “enquistarem nela como um corpo estranho“. 

Para tanto o governo imperial pretendia separar os imigrantes e integrá-los à população nacional, o que na prática não ocorreu.

Nas colônias presentes em diversas localidades do país, os imigrantes italianos foram aglomerados, formando vilarejos em que nem ao menos se falava o português. 

Por outro lado, a fraternidade entre os colonos italianos permitiu o sucesso das colônias e a fixação dos colonos à terra, principalmente quando emigravam junto à sua família. 

No período, o império desejava impor aos jovens italianos o serviço militar obrigatório, para ser cumprido em diferentes regiões do território nacional. Segundo as autoridades da época, desta forma os colonos não seriam apenas brasileiros Jure Soli, mas parte da nova população brasileira. 

Também é preciso entender que no Brasil, os imigrantes italianos passaram por diferentes processos de colonização.

Enquanto alguns foram direcionados para as colônias do sul em terras devolutas, onde poderiam adquirir terras pagando tributos em forma de produção agrícola. 

Outros foram direcionados as fazendas no interior Paulista e Mineiro, onde viriam a “substituir” os escravos, trabalhando em condições análogas a escravidão, em um processo semelhante ao que viviam na Itália, sem a perspectiva de posse da terra cultivada. 

Houveram pouquíssimas colônias em São Paulo e Minas que permitiam aos colonos serem proprietários, pois havia uma pressão por parte dos fazendeiros para evitar este tipo de colonização nos seus estados. 

Redes de comunicação

As redes de comunicação foram de suma importância para a distribuição geográfica dos italianos no Brasil. 

Os italianos que se estabeleceram nas colônias brasileiras, enviavam correspondências aos seus parentes e amigos na Itália, atraindo mais imigrantes oriundos das mesmas regiões italianas e que acabavam por vir a residir – pelo menos em um primeiro momento – nas  mesmas colônias dos seus parentes e amigos. 

Compreender essa rede de comunicação ajuda a mapear os lugares de proveniência dos italianos.

Imigração e Colônias Italianas 

A presença italiana no Brasil remonta a época do descobrimento, ainda no período das capitanias hereditárias. Em 1560 um cidadão florentino, chamado Filippo Cavalcanti, se torna senhor de engenho na capitania de Pernambuco. 

A primeira colônia italiana, no entanto, foi instalada no ano de 1836 em Santa Catarina, denominada Colônia Nova Itália, onde atualmente é o município de São João Batista, próximo a Florianópolis. 

Apesar disso, contrariando historiadores, o ex-presidente Michel Temer, conferiu o título de Cidade Berço da Colonização Italiana no Brasil a Pernambuco, pela Colônia Santa Teresa (1874). Em 1874 o navio La Sofia atracava no Espírito Santo trazendo imigrantes da região do Tirol, sendo na realidade de nacionalidade austríaca. 

Deixando essa confusão histórica de lado, o que importa mesmo é que a imigração italiana se intensificou entre 1880 e 1930, onde quase 1,2 milhões de imigrantes só em São Paulo, 100 mil no Rio Grande do Sul, 60 mil em Minas Gerais, 25 mil no Espírito Santo, 25 mil em Santa Catarina e 20 mil no Paraná. 

Os imigrantes provenientes do sul da Itália, em sua maioria operários, se fixaram nas grandes cidades como São Paulo e Belo Horizonte. Enquanto os italianos do norte – que eram agricultores – foram destinados às lavouras de café em São Paulo e Minas Gerais, e também às colônias do sul no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. 

Claro que ao longo de gerações houveram muitas migrações internas, em decorrência da oferta de terras cultiváveis, da oferta de trabalho e da construção da infraestrutura viária nacional. 

Considerações Finais

Muitas pessoas buscam na cidadania italiana um passaporte de entrada para uma vida na Europa sem refletir sobre o seu passado. A pesquisa histórica e genealógica é mais do que a pesquisa de documentos para a cidadania italiana.

Para além de descobrir onde vamos, é preciso saber de onde viemos.

Não se decepcione se na sua pesquisa genealógica você descobrir que não descende de nobres, de reis e rainhas que viviam em castelos medievais da Toscana, afinal, grande parte da imigração italiana no Brasil tem origem nos camponeses simples e analfabetos, que mesmo com toda dificuldade do mundo atravessaram o oceano para buscar uma vida melhor para a sua família.

Sinta orgulho da coragem dos seus antepassados, desse espírito desbravador e da força que tiveram para recomeçar!

Pense na dificuldade que eles enfrentaram sem Google Maps, sem telefone, e-mail, com pouca informação e conhecimento.

Que a história da sua família seja motivo de inspiração para você que pretende mudar para outro país e que irá enfrentar muitos desafios pela frente.

Um abraço e espero que você tenha gostado desse artigo que faz parte de um material especial que eu estou desenvolvendo para o Italinha.

Comente aqui embaixo a história da sua família.

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