Se você acompanhou os episódios passados sabe a saga que foi procurar um imóvel na Itália, viu o nosso drama ao entrar em contato com as imobiliárias, que nem ao menos atendem sem antes de saber da sua renda e das suas intenções com o imóvel.

Nesse episódio eu conto como conseguimos alugar o nosso primeiro imóvel na Itália e dar algumas dicas importantíssimas para quem está vindo morar na Itália e também vai começar essa jornada.

E se você está chegando neste artigo agora eu vou me apresentar rapidinho: Olá, eu sou a Fernanda e estou contando aqui a minha experiência de mudança para a Itália junto ao meu marido Mauricio, ele já é cidadão italiano e eu trouxe meus documentos para reconhecer a cidadania pela minha família.

Então não estávamos buscando meramente um imóvel para reconhecer a cidadania italiana, nosso objetivo era achar um imóvel para morar mesmo e a residência da cidadania seria um extra, inclusive se eu não consegui-se um imóvel que possibilita-se a residência iríamos contratar uma assessoria para fazer a minha cidadania.

Feitas as apresentações, se quiser ver o penúltimo episódio é só clicar aqui:

ALUGAR IMÓVEL NA ITÁLIA

Bem, depois de quase um mês de muita busca, começaram as festividades de Natal e Ano Novo.

Passamos o Natal com amigos, que conhecemos no hotel em Desenzano del Garda, e no Ano Novo fomos para Treviso ficar uns 4 dias para conhecer melhor a cidade. 

Treviso é uma cidade encantadora, pequena, charmosa, você caminha por cerca de meia hora e chega na outra ponta da cidade murada.

Tivemos uma ótima impressão, caminhamos na parte antiga de Treviso e também no entorno, onde tem muitos casarões belíssimos. 

Os imóveis que pesquisamos em Treviso nos sites de busca eram mais novos ou reformados e tinham mobília na parte da cozinha. O que nos animou em comparação aos imóveis da Brescia e de Verona. 

Mas, como disse no capítulo anterior, já havíamos reservado um mês de AirBnb em Castel Mella próximo a Brescia, para focarmos os nossos esforços por lá.

A chegada em Castel Mella

Logo no primeiro dia de 2022 juntamos as nossas coisas e partimos para a Província Bresciana, não havia ônibus disponível em Treviso e tivemos que carregar as malas até a estação de trem.

Pegamos o trem até Padova e de lá tivemos que fazer uma conexão. Porém a linha do trem que iríamos pegar pegou fogo e os trens ficaram interrompidos.

Como não havíamos comprado o trecho até a Brescia, optamos por pegar outra linha de última hora que atrasou uma hora do nosso planejamento.

Chegamos a Brescia e por sorte os ônibus estavam funcionando.

Pegamos o ônibus até Castel Mella onde o nosso host do AirBnb nos levou até o apartamento. 

Ao conversar com ele sentimos que talvez tivesse a possibilidade de alugar aquele apartamento, mas decidimos experimentar a estadia antes de qualquer proposta.

O apartamento não tinha aquecimento termo sinfônico, apenas ar-condicionado quente/frio e foi assim que nos viramos para aquecer nos dias mais frios que passamos na Itália.

Com o ar-condicionado o ar até esquenta, mas o piso se mantém muito gelado. 

O apartamento era grande e tínhamos uma vista maravilhosa da Brescia, mas o entorno era muito ruim, estávamos em uma zona industrial de Castel Mella e não era nada agradável. A sorte é que havia um supermercado logo na frente.

Aproveitamos esse tempo para voltar a organizar a vida e continuar a procurar imóveis para alugar na Itália. 

Dias perdidos

A primeira semana foi completamente perdida, até depois da Befana ou Dia dos Reis, que é quando começa efetivamente o ano por aqui.

A partir daí voltamos a pesquisar imóveis e continuamos na mesma, sem resposta e sem visitas.

O Mauricio na tentativa de resolver o problema rapidamente começou a cogitar morar ali em Castel Mella e fazer alguma proposta para o proprietário. Claro que eu veementemente rejeitei essa ideia! 

Casamento é isso, é saber conversar sobre os desejos, medos e expectativas do outro, ainda mais ao mudar de país. O casal tem que estar bem alinhado quanto ao que quer, o que não quer e o que está disposto a abrir mão. 

O problema do Permesso di Soggiorno

Conforme os dias iam passando eu comecei a ficar preocupada com a questão do meu visto de turista que iria vencer.

Não tinha como eu fazer o Permesso di Soggiorno antes, porque ainda não tínhamos uma residência e sem a residência o Mauricio não poderia me “empadronar” como marido e nem eu poderia solicitar o visto para a cidadania. 

Além disso, o meu Permesso di Soggiorno estava agendado, mas eles só tinham agendamento para Março.

Descobri com um amigo que por ser casada com um italiano eu não ficaria ilegal no país, mas apenas irregular o que me deu um certo alívio.

Eu desabei

Os dias passavam e percebemos que quase não haviam apartamentos disponíveis na Brescia. Novamente entramos naquele ciclo de enviar contatos, ligar e não conseguir nenhuma resposta. 

Já estávamos a 15 dias por lá e eu desabei, todo aquele esforço estava me deixando completamente exausta.

Confesso que eu chorei até meu rosto ficar completamente inchado.

Pensei no quanto estamos sacrificando, pensei na vida que deixamos pra trás, pensei em como estávamos sendo ignorados e por vezes maltratados. 

Ninguém ao menos se dispunha a analisar a nossa renda, ou a conversar com a gente, nem mesmo para dizer:

– Olha desse jeito vocês não vão conseguir, tente de outra forma. 

A gente não conseguia passar da barreira do corretor de imóveis, não conseguíamos chegar aos proprietários.

Não havia anúncios de imóveis particulares e eu me sentia com as mãos amarradas. 

Essa é a pior sensação, de não saber mais o que fazer. 

De certa forma eu entendia que para os italianos não fazia sentido a gente trabalhar no Brasil e querer morar na Itália. Eles também não queriam ter o trabalho de analisar a nossa renda. 

Chegar na Itália sem trabalho aqui, sem conhecer muitas pessoas, sem família aqui e querer alugar um imóvel é realmente impensável para a maioria dos italianos. 

No Brasil não é muito diferente, as imobiliárias exigem muitos documentos de comprovação de renda, seguro aluguel, referências pessoais, etc. 

Eu pensava na situação em que estávamos, morando improvisados há quase 3 meses, pensava que no Brasil não estaríamos enfrentando essa situação, que os nossos documentos teriam valor e que não estaríamos sendo tratados daquela forma. 

Sem brincadeira, pensei mesmo em desistir e voltar para o Brasil. 

O Mauricio me acalmou e propôs de tentarmos outras abordagens, esquecer as imobiliárias e concentrar as nossas energias em tentar alugar particular. 

Novamente a importância de ter alguém que seja companheiro, que saiba escutar, que te apoie nos momentos em que você desaba.

Reviravolta

Nesse mesmo dia eu reuni o restante das minhas forças, ainda com a cara toda inchada de tanto chorar, e fiz um post no Facebook, no grupo Brasileiros na Brescia. 

Vou confessar que eu sempre tive medo de me expor, sei que em muitos desses grupos tem pessoas cujas intenções não são as melhores. Tem pessoas que se aproveitam dos brasileiros recém-chegados ao país.

Só que a Brescia é cheia de pessoas incríveis, a verdade é que muitos me responderam e nos deram apoio. 

A partir dessa publicação recebi alguns contatos, um deles era de um brasileiro que conhecia uma pessoa em Verona que cobra um pequeno valor para listar os contatos de imóveis particulares, ele atua quase como um corretor de imóveis, mas sem ser o intermediário entre você e o locatário.

Eu sei que isso existe, algumas pessoas trabalham com isso, mas também há possibilidade de golpes, eu não gosto dessa ideia de sair pagando sem ter garantia de nada. 

Naquele caso eu achei que o valor valia o risco, eram menos de 100 euros, a pessoa iria me passar alguns proprietários e se eu não gostasse de nenhum imóvel ele se comprometeria em continuar me passando contatos por até 6 meses.

Só que resolvi esperar até o final de semana, antes de agendar para ver como funcionava.

No dia seguinte porém, eu recebo uma mensagem, de um conterrâneo dizendo que conhecia uma pessoa que tinha um apartamento em reforma na Brescia.

Foi tudo muito rápido, ele passou nosso contato e na mesma semana eu e o Mauricio fomos conhecer o apartamento.

O apartamento localizado na Brescia Due, próximo a estação de trem, um bilocale, não era bem o que nós estávamos procurando, justamente por trabalhar em casa queríamos um quarto extra para escritório. Mas a sala desse apartamento era grande, já tinha a cozinha mobiliada e tinha elevador <3.

Tudo fluiu bem, conversamos e sentimos que era uma pessoa honesta. Ele nos perguntou sobre o motivo de estarmos mudando para a Itália e para quando precisaríamos do apartamento, também disse que teríamos que comprar uma cama. Inclusive recomendou uma loja de colchões que por sinal se localizava logo abaixo do prédio em que estávamos em Castel Mella.  

Voltamos para Castel Mella com uma sensação boa de que esse seria o nosso apartamento.

Enviei a nossa documentação e esperei. 

Após alguns dias sem nos contatar começamos a ficar preocupados, pensando que aconteceria o mesmo do imóvel de Salò.

Essa falta de comunicação e clareza fazem a gente ficar maluco. 

A verdade é que ficamos perdidos, sem saber se tinha dado certo ou não.

Descobrimos no final, que ele estava apenas reformando o apartamento para a gente poder entrar até o dia primeiro. Ele até deixou a gente entregar o colchão antes para que tivéssemos uma cama para dormir na primeira noite.

Depois de estar calejada e de ser maltratada, eu não esperava por essa empatia. Ele realmente foi muito gentil!

Dizem que o primeiro imóvel na Itália a gente não escolhe, mas é escolhido. E assim foi.

Nosso apartamento na Itália <3

Só tenho a agradecer a Deus, ao contato que me indicou para essa pessoa deste imóvel!

No final das contas esse imóvel é ótimo pois é perto da estação, tem um ponto de metrô a poucos metros e podemos nos deslocar com facilidade pela cidade ou para outros lugares.

Esse é justamente o nosso objetivo em viver na Itália, poder explorar lugares novos todos os finais de semana, pegar um trem ou um avião e conhecer outros países. Ir a shows, museus, exposições. 

O apartamento fica em um complexo de prédios modernistas dos anos 70, tem áreas privadas que se mesclam com áreas “semi públicas”, no interior tem passagem livre aberta ao público e estacionamento coletivo para os carros dos moradores, na parte externa alguns estacionamentos destinados aos comércios localizados no térreo.

Alguns prédios tem andares comerciais, outros são somente residenciais. Alguns prédios tem apartamentos grandes, outros apartamentos são menores. Uma coisa bem típica da visão da arquitetura e urbanismo modernista. 

A Brescia é uma cidade que nós gostamos, ficamos aqui durante a cidadania do Mauricio, conhecemos bem o centro e temos até o nosso bar favorito por lá. 

Bem em frente temos um parque e outro muito próximo onde caminhamos com vista para a cúpula da Duomo. 

Depois de tanto chororô e de tanto esforço valeu a pena. 

Indicação é tudo

A lição que eu tiro dessa experiência ao alugar um imóvel na Itália é que aqui é um país de pessoas mais velhas, que vivem em um tempo onde a indicação vale muito. Sem a indicação do grupo nós não teríamos conseguido.

Nas imobiliárias você enfrenta burocracia, enfrenta a falta de vontade dos corretores e vai precisar comprovar sua renda com um bom emprego aqui na Itália. Ou então ter aquelas condições que eu mencionei no episódio anterior. 

Agora com uma indicação e tendo uma conversa pessoal a coisa muda de figura. 

Se você está vindo para morar na Itália já te adianto: Não será fácil.

Venha sabendo o que te espera para sofrer menos e aproveite a experiência dos outros para vir preparado (a).

A seguir eu dou algumas dicas com base na minha experiência tanto dessa mudança para a Itália, como na minha experiência de viajante.

Preparo financeiro

Se puder venha com dinheiro para dar 12 vezes o valor do aluguel e mais taxas (um ano adiantado) + 3 cauções + comissão). Assim fica muito mais fácil de abrir a conversa com as imobiliárias e os proprietários se sentem mais seguros.

Tem até uma modalidade onde você deposita para o banco um ano de aluguel + taxas e o banco “congela” esse valor e vai pagando mensalmente ao proprietário. 

Eu sei que muitos brasileiros vendem seus bens no Brasil e conseguem arcar com essa despesa alta no início da sua jornada. Pode ser uma opção.

Agora cuidado com os golpes, nunca deposite dinheiro para quem você não conhece ou confie. Não venha querendo ter tudo resolvido do Brasil, se hospede em um hotel para começar.

Para quem tem renda proveniente do exterior, traga tudo documentado e traduzido, isso é melhor do que nada. Vale para aposentadoria, salário, ganhos de ações, aluguéis, etc. 

Ter o nosso trabalho remoto nos ajudou, porque não tínhamos tanta reserva financeira quanto gostaríamos e o trabalho remoto nos garante uma renda mensal.

Se você não puder vir com renda ou com um ano de contas pagas, venha com pelo menos alguma reserva financeira para se manter até conseguir um emprego e depois conseguir alugar um imóvel. Não se coloque em uma situação de risco financeiro em um país que não é o seu, sem ter apoio familiar ou de amigos próximos.

Por aqui nos programamos para gastar 900 euros por mês com hospedagem, ou com o aluguel e mais 600 euros alimentação e extras. Totalizando 1500 euros mês para duas pessoas.

Claro que tem muitas pessoas que vêm e se hospedam em quarto até conseguir um emprego e também reduzem os gastos de alimentação ao máximo para realizar seu sonho, gastando menos do que nós.

Mesmo assim, é necessário saber quanto custa alugar um quarto, quanto custa a alimentação mensal e se programar para conseguir se manter até arrumar um emprego na Itália. 

Ou como alguns fazem, até conseguir a cidadania italiana e ir para outro país arrumar um emprego.

Independente de onde seja, tem o custo de moradia e alimentação até arrumar um emprego.

O ideal é ter pelo menos 6 meses de contas pagas. 

Se quiser comece desde já a pesquisar: PESQUISAR IMÓVEIS NA ITÁLIA

Economize nos gastos de alimentação

A nossa amiga, ficou em um hotel BNB que teoricamente é mais econômico em relação a outros hotéis, o problema é que o BNB não tem cozinha. Então ela se viu obrigada a comer todos os dias fora. E comer fora acaba custando de 12 a 30 euros por pessoa e por refeição. 

Em 30 dias duas pessoas vão gastar quase 1500 euros só em alimentação, sendo que comprando comida e preparando as refeições em casa com 400 euros por mês você faz todas as refeições do dia para 2 ou 3 pessoas.

Se a pessoa for extremamente econômica consegue até reduzir esse custo de mercado pela metade. 

Ou seja, às vezes o hotel barato pode sair mais caro do que você imagina. 

Por isso, sempre que eu faço viagens em que preciso me hospedar por mais de 4 dias, pego uma hospedagem com cozinha. Geralmente pelo AirBNB, ou pelo Booking. 

A mesma regra vale para a hospedagem no caso da mudança para Itália, cozinhando você economiza de 70% a 90% o custo de alimentação. E isso não te impede de sair e de comer fora de vez em quando.

Aprenda italiano.

Estudar italiano nos ajudou a se comunicar. 

Confesso que não falamos bem, eu enrosco bastante, meu vocabulário é bem limitado. Mesmo assim consegui me comunicar apenas com um ano de estudo. 

E nem preciso dizer que para quem vem trabalhar por aqui é necessário falar italiano.

Se comunique!

Use a Lei da Atração, eu detesto essas coisas da guruzada, mas a verdade é que: “Quem tem boca vai a Roma“. 

Entre em grupos, conte sua história e se comunique. Seja para procurar um emprego, arrumar um imóvel ou só para fazer amigos e espantar a sensação de solidão que é viver em um país novo. 

No seu projeto de vida na Itália, você sempre poderá contar com o Italinha, onde eu vou compartilhar todos os desafios da vida na Itália para que você aprenda com os nossos erros e acertos. Um abração. 

Inclusive no próximo episódio vou mostrar como foi a mudança para o apartamento, as compras que tivemos que fazer, como pesquisamos as coisas e onde compramos. Ok?! 

PRÓXIMO EPISÓDIO: Compras para o Apartamento

Um abraço e nos vemos em breve.