Alugar imóvel na Itália

Alugar imóvel na Itália

Olá, seja bem vindo (a), eu me chamo Fernanda e esse é mais um episódio dessa série que fiz para contar a minha experiência ao mudar para a Itália com meu marido.

Se você acompanhou os últimos episódios sabe que após a Pandemia adiamos os nossos sonhos por quase dois anos e agora conseguimos entrar na Itália para finalmente começar a nossa vida por aqui. 

Hoje eu vou contar como foram as primeiras semanas e meses procurando um imóvel para alugar e fixar nossa residência na Itália. Todas as dificuldades e como fomos usados por 2 vezes!

Nosso plano

Antes de iniciar quero relembrar que nos episódios anteriores contei que eu e meu marido trabalhamos online, a nossa renda vem de uma empresa no Brasil na qual o Maurício é sócio e nela temos diversos cursos e alunos. Além da escola temos ainda outra empresa na qual prestamos serviços web.

Mesmo antes do Mauricio reconhecer a cidadania já estavam nos planos morar na Itália e continuar trabalhando online como fazíamos. 

Para nós, morar na Itália, além da segurança e da comida boa, é ter facilidade de viajar pela Europa e a possibilidade de conhecer novos lugares aproveitando os modais de transporte e as promoções relâmpago das companhias low cost.

Enfim, ter uma vida de um nômade digital que desfruta de liberdade, mas mantendo um cantinho fixo na Itália para chamar de lar. 

E o que isso significa na prática: sabíamos desde o princípio que não teríamos um contrato de trabalho na Itália e que teríamos que comprovar a nossa renda do Brasil.

Por isso, a ideia sempre foi trazer conosco as nossas declarações de renda pessoais de ambas as empresas originais e traduzidas. 

Além disso: Também sabíamos da importância de ter referências, pedimos então as imobiliárias com as quais tivemos contratos nos últimos quatro anos para fornecer uma carta de pontualidade e levamos essa referência traduzida. 

E ainda: Pegamos alguns contatos na Itália de pessoas que conhecemos para ter de referência.  

O Sonho de Morar na Itália

O meu sonho sempre foi morar em Desenzano del Garda, ou em alguma cidade do Lago di Garda que ficasse fácil de se deslocar para Verona ou Brescia. 

Escolhemos essa região por ser bem servida de infraestrutura (trens velozes, rodovias boas e ônibus).

Todo o norte da Itália é muito bem desenvolvido, assim como a região vizinha da Emilia Romagna. 

É uma boa opção para quem procura emprego, mas também por isso os valores dos aluguéis são mais altos quando comparados ao sul italiano.  

Também estávamos dispostos a alugar algo em Verona, Brescia, ou nas cidades do entorno que tivessem estações de trem. 

A princípio imaginamos ficar sem carro e morar em uma cidade maior e mais movimentada, para não ter um choque de quem sai de Curitiba com 2 milhões de habitantes e vai morar em uma frazione italiana com 2 mil pessoas.

A primeira visita a um imóvel na Itália

Imóvel em Lecco

Mencionei nos episódios anteriores que durante a nossa estadia na Espanha começamos a enviar e-mails para as imobiliárias e propriedades particulares para tentar agendar alguma visita. Depois de muitas tentativas sem resposta, conseguimos agendar uma visita para o dia seguinte a nossa chegada na Itália.

Ao descer no aeroporto de Bergamo alugamos um carro por 15 dias para facilitar as visitas aos imóveis e no dia seguinte partimos para a nossa primeira visita, um imóvel em Lecco.

Lecco é uma cidade que fica no lago de Como, um pouco acima de Milão, uma hora de Milão mais ou menos.

Então no dia seguinte nos arrumamos e saímos do lago de Garda e fomos até o outro lago, quase 3 horas até chegar lá. 

Achamos o prédio onde ficava o apartamento e havia uma montanha de pedra imensa ao lado, muito maior do que o edifício. E entre o paredão da montanha e o edifício havia apenas uma rua, uns 5 ou 6 metros. 

O apartamento era um trilocale (dois quartos e uma sala) de 650 euros muito grande, bem iluminado, sacada dos dois lados, não tinha garagem incluída, mas havia a possibilidade de alugar por mais 90 euros. 

O problema desse imóvel é que por quase 700 euros ele não tinha nenhum móvel e nem a cozinha era mobiliada.

Então teríamos que comprar tudo, absolutamente tudo. E para complicar o corretor nos pediu um ano de aluguel e condomínio (50 euros) adiantados, além de 3 meses de caução e da comissão dele que seria mais um aluguel. 

Então calcule, seriam 11 mil euros, na cotação de R$6,80, quase 75 mil reais para poder alugar o apartamento que estava completamente “pelado”, sem móveis e sem eletrodomésticos. 

Tudo bem que pagando um ano adiantado não teríamos que bancar essa despesa todos os meses, porém para nós arcar com esse custo não era uma opção. 

Pensamos: – Calma, é só o primeiro imóvel e logo irão aparecer oportunidades melhores. 

Os italianos têm medo de alugar

Já sabíamos que era difícil alugar imóveis na Itália sem ter o trabalho por tempo indeterminado, esta modalidade de trabalho é quase como uma carteira assinada. 

A legislação aqui dificulta para remover inquilinos que não pagam aluguel, ainda mais quando têm filhos – dizem que isso já não é assim, mas no geral esse medo de alugar e não receber faz com que os proprietários queiram muitas garantias dos inquilinos.

De maneira geral eles ficam receosos de alugar para quem tem filhos pequenos, que não é o nosso caso, mas por outro lado somos um casal jovem que poderia ainda ter filhos.  

Por isso, pedem como garantias contrato de aluguel a tempo indeterminado e, às vezes mesmo que uma pessoa do casal tenha este tipo de contrato, eles não aceitam, querem que os dois tenham a tal da busta paga (contracheque).

Ou ainda, pedem 12 aluguéis adiantados + 3 meses de caução. O caução não é para garantir o pagamento como no Brasil, é para garantir que caso o inquilino saia sem pintar ou destrua os móveis, o proprietário tenha como cobrir os danos. 

Sem nenhum retorno

Depois dessa primeira visita, continuamos a tentar mais contatos com as imobiliárias, por e-mail, pelo sistema dos buscadores de imóvel, no site das imobiliárias e também pessoalmente rodando as imobiliárias de Desenzano del Garda.

Apesar da gentileza, os corretores de imóveis nem davam bola para gente. 

Primeiro porque diferente do Brasil, onde você chega em uma imobiliária e tem uma infinidade de imóveis para alugar, aqui na Itália não tem. 

A verdade é que quase não tem imóveis para alugar e os que têm, os corretores querem saber se você tem aquelas garantias mencionadas antes mesmo de te mostrar qualquer imóvel. 

Como nós não preenchíamos os requisitos de inquilinos perfeitos, éramos completamente ignorados, tanto por telefone, quanto pessoalmente, quanto via e-mail.

Ainda em Barcelona havíamos conseguido agendar outra visita, o que nos mantinha esperançosos, era um imóvel muito bom em uma localização ótima da Brescia. Porém, um dia antes da visita o corretor cancelou. 

Os dias passavam, entrávamos em contato exaustivamente com dezenas de imobiliárias em Verona, na Brescia e nada. 

Pegamos o carro e fomos em vão a Verona rodar as imobiliárias em que tínhamos visto alguns imóveis. E a resposta era sempre a mesma: – O imóvel já foi alugado! (o que era mentira, pois os imóveis continuavam anunciados)

Começamos a cogitar e buscar imóveis em outras cidades.

Procuramos em Mantova e surgiu um corretor que nos fez ir até lá 3 vezes, só nos enrolou e nos fez perder tempo, no primeiro dia marcado ele não tinha mais o imóvel; no outro dia ele ficou doente, não apareceu e também não avisou; e no terceiro dia marcamos de ver um imóvel que custava 750 euros e ele nos mostrou um que custava 900 euros.

Conseguimos, só que não!

Foto do Lago de Garda

Eu queria muito conseguir um imóvel no Lago de Garda, já estava quase desistindo de procurar imóveis por lá quando recebo uma ligação. Era uma corretora que eu havia contactado e ela queria me mostrar um imóvel em Salò, no Lago de Garda!!!

Salò é a cidade onde nasceu o bisavô do Mauricio, inclusive lá tem a via Zane, que é o sobrenome do meu marido. 

Pensei comigo: – Fernanda do céu, não se empolga. 

Era um apartamento na zona histórica, sem garagem, mas em um prédio bonito, todo mobiliado, inclusive com panelas, pratos, talheres e roupa de cama. Imagino que antes deveria ter sido um imóvel de turismo e que o proprietário se cansou de alugar por temporada. 

Visitamos o imóvel e no final da visita perguntei para a corretora como poderíamos fazer uma proposta. Ela deu uma engasgadinha com a pergunta e me disse para eu enviar a proposta por e-mail que ela encaminhava para o proprietário.

Ok. Até aqui havíamos conseguido passar da barreira dos corretores e finalmente chegado a uma real proposta com um proprietário. 

Passeamos na cidade, fiquei realmente esperançosa e estava pulando por dentro. 

Afinal, morar no lago de Garda era o meu sonho e em um imóvel todo mobiliado seria melhor ainda. 

Enviei a proposta, expliquei tudo nos mínimos detalhes com links para todos os documentos que comprovam a nossa renda e comecei a rezar. 

Ela ficou de me dar a resposta na quarta. Chegou quarta e nada. 

Liguei e perguntei se ela havia recebido a proposta, ela disse que sim, mas que o proprietário estava em viagem que eu aguardasse até sexta. 

Chegou sexta e nada. Bem, não queria parecer chata então deixei para ligar na segunda-feira.

Segunda eu ligo, ligo e a corretora não me atende mais. 

Mando um whatsapp e nada, por fim resolvi mandar um SMS. 

Nem sabia como fazer isso depois de tantos anos sem enviar um SMS. 

Ela me respondeu o SMS dizendo que no mesmo dia da minha visita, outra pessoa foi visitar e que essa pessoa também havia feito uma proposta. E que o proprietário estava analisando as duas. 

Que ela me daria uma resposta até a outra quarta. 

Chegou quarta e nada. 

Finalmente entendi o que tinha acontecido, afinal trabalho com marketing. Ela nos usou para gerar escassez e pressionar o outro locatário a fechar negócio. 

Fomos usados na maior cara de pau!

Me senti muito triste e essa foi a primeira vez que eu chorei. Spoiler: terão mais. 

Passamos por isso mais uma vez, fomos a uma visita em Cremona e o corretor de lá agendou com mais um casal no mesmo imóvel com 15 minutos de diferença.

O pior que você se esforça, manda 100 mensagens para ter 1 resposta, se arruma, se desloca, perde um dia inteiro para ir no imóvel para passar por esse tipo de situação.

O que eu estou falando aqui é real e não é para te desanimar, é para te conscientizar que essas coisas podem acontecer com você também. 

Não era onde queríamos morar!

Imóvel em Caravaggio

Já estávamos cansados de procurar, não fazíamos mais nada, não estudávamos italiano, não conseguíamos trabalhar direito, o nosso empenho era apenas em conseguir um imóvel para morar na Itália. 

O Mauricio começou a buscar em outros sites. E no Subito ele achou um anúncio em Trevignano que nos respondeu, aleluia! 

Mas, o imóvel não era bem em Trevignano, era em Caravaggio, uma cidade vizinha. 

Bem, era uma cidade com estação de trem e o imóvel parecia bom.

Chegando em Caravaggio estacionamos e ficamos esperando o corretor, o apartamento não era bem um trilocale, era um bilocale (um quarto e uma sala) com cozinha habitável (uma cozinha onde é possível colocar uma mesa), com um quarto grande e uma sala grande. 

A cozinha era mobiliada e o apartamento foi recentemente reformado, então estava novo. A classe energética também era boa. Mas, ficava no quinto andar sem elevador. 

O corretor foi um amor de pessoa, muito gente boa mesmo, falou que poderíamos alugar dando 6 aluguéis de caução, o aluguel era de 550 euros, o imóvel era ok e pensamos: – Poderia ser esse aqui o nosso primeiro imóvel na Itália

Antes de retornar a Desenzano, decidimos dar uma volta na cidade de Caravaggio e realmente desencantou.

A cidade não tinha calçadas boas, nem arborização boa, era uma cidade feia que não dá nem vontade de sair dar uma volta. 

O Mauricio estava empolgadaço com a possibilidade de conseguir alugar o apartamento, afinal estávamos a semanas tentando, mas eu disse que apesar de ter achado o apartamento bom, ele era no quinto andar sem elevador, a cidade era feita e no dia a dia era aquilo ali que iríamos viver, naquelas ruas feias que iríamos fazer a nossa caminhada diária. 

A primeira reação do Mauricio foi ficar chateado, pois era um imóvel barato e que havia uma real chance de alugar, mas depois de conversarmos ele viu que realmente não era aquela vida que buscamos na Itália. 

No final, estamos convertendo nossos ganhos em real do Brasil, pagando uma cotação absurda para levar uma vida melhor na Itália. Não dava para fazer todo esse sacrifício e morar em Caravaggio, pagando caro para viver em euro, para morar em um apartamento no quinto andar, sem elevador, em uma cidade desagradável. 

Não era isso que a gente veio buscar na Itália. 

A decisão foi difícil, mas entrei em contato com o corretor, agradeci ele e dispensei o apartamento. 

Um pulo em Treviso

Foto de Treviso – Itália

Depois de quase completar 12 dias sem conseguir nenhum agendamento, estávamos muito desanimados.

Ficamos sabendo que em Verona tinham brasileiros com contrato de trabalho tentando alugar a mais de três meses sem sucesso. Mesmo os italianos de nascença estavam com dificuldade de alugar algum imóvel em Verona. 

Verona é uma cidade maravilhosa, já estivemos outras vezes nessa região e nos apaixonamos pelas suas qualidades.

A princípio pensamos que seria mais fácil alugar em cidades maiores por haver em teoria mais imóveis, porém vimos que a realidade é que mesmo em cidades grandes como Veneza e Brescia a disponibilidade de imóveis era pouca e a procura altíssima. 

Ainda mais em Verona, que além de ser uma cidade turística por conta de Romeo e Julieta, é também uma cidade acadêmica com muitas universidades. E ainda uma região muito industrializada. 

Então, juntando todos estes fatores, Verona tem mais demanda do que  pudéssemos imaginar. 

E no entorno? No entorno nem existem imóveis para alugar! 

As pequenas cidades no entorno de 50 km de Verona também não tem imóveis para alugar. Pode pesquisar nas pequenas cidades e você verá um ou dois imóveis para alugar, isso quando achar! 

Em grupos, o Mauricio havia conhecido a Maria, uma brasileira que já tem a cidadania italiana e que compartilhava de uma condição semelhante à nossa, sua renda familiar vinha do exterior.

A Maria estava em Treviso tentando alugar algo por lá para a sua família – ela, o marido e a filha adolescente – e nos convidou para um café. 

Ainda estávamos com o carro e aproveitamos para dar um pulo para conhecer Treviso e quem sabe cogitar até em mudar o foco das nossas buscas. 

Segundo a Maria, apesar da dificuldade em alugar, parecia que as imobiliárias trevisanas eram mais receptivas. 

O café com a Maria foi ótimo e depois disso passamos a cogitar começar a procurar em outras cidades maiores mais ao oeste, como Vicenza, Padova e Treviso.

Ficamos a pé

Uma foto do passeio no lago de Garda

Estava quase vencendo os 15 dias em que alugamos o carro, estávamos desesperançosos e calejados de tanto procurar imóveis. 

Talvez alguns pensem: – Poxa, mas só passaram 15 dias. 

Mas, para nós a vida congelou nesses 15 dias, não fazíamos nada além de procurar imóveis e enviar contatos. Foram mais de 200 contatos enviados só neste primeiro mês entre Espanha e Itália. 

Decidimos relaxar um pouco e fazer um belo passeio no lago e isso foi muito importante. Foi um momento de voltar a respirar, de tomar um fôlego e lembrar o motivo de estarmos ali, sacrificando tanta coisa. 

No dia seguinte levamos o carro para devolver no aeroporto de Bergamo e aproveitamos para conhecer a cidade. Quem sabe Bergamo poderia entrar na nossa lista de possibilidades de lugares para morar na Itália.  

Agora estávamos a pé, dependendo de ônibus e trem para visitar os imóveis, sendo assim nosso raio de busca tinha que ser mais restrito. 

Optamos por não renovar o aluguel do carro, pois de fato o número de visitas era escasso e eu queria me concentrar mais na cidade em que estávamos do que em buscar imóveis em outras cidades.

O plano Z

O Natal já ia se aproximando e com ele a nossa data de saída do hotel em Desenzano del Garda, nosso check-out era dia 28 de Dezembro. Pensamos em renovar, mas o hotel estava completamente lotado para o Ano Novo.

E mais, os preços das hospedagens estavam um absurdo para o Ano Novo, tanto em Verona, como na Brescia.

Nosso orçamento de hospedagem mensal era de 900 euros por mês e não queríamos ultrapassar isso.

Decidimos traçar uma nova estratégia: Alugar um AirBNB na Brescia por um mês e continuar insistindo lá, se em um mês a gente não conseguisse nada iríamos para Treviso procurar o nosso apartamento em outro canto da Itália. 

Passamos o Natal em Desenzano del Garda com dois amigos que conhecemos no hotel e foi um ótimo fechamento desse período na cidade. 

Depois nos organizamos e partimos para o Ano Novo em Treviso, esperando essa época de festividades acabar para continuar procurando um apartamento na Itália. 

No próximo episódio eu conto como conseguimos alugar o nosso apartamento na Itália e lá eu dou dicas valiosas para quem está vindo em busca de um imóvel.

COMO CONSEGUIMOS ALUGAR NOSSO IMÓVEL NA ITÁLIA

Um abraço e até o próximo episódio.

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