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Hoje vamos falar sobre cultura italiana, o que nós brasileiros herdamos de nossos antepassados e os costumes que permanecem vivos até hoje lá na Itália!
Comida, família e crença
Não é à toa que escolheram o nome Comer, Rezar e Amar para o filme estrelado por Julia Roberts em que ela viaja pela Itália, Índia e Bali, na Indonésia. Mas, podemos encontrar todos esses elementos sem nem mesmo sair da Itália.
A primeira vez que eu viajei para a Itália eu não entendi essa relação visceral que os italianos têm com a comida, é uma coisa tão intensa que é até difícil de explicar. A tradição da comida é quase uma religião nacional.
É comum escutar reclamações de turistas que pediram queijo para colocar sobre o macarrão e receberam um NÃO do garçom.
Ou, eu que em um mercado no centro de Firenze fui até a seção de queijos – que lá é como um açougue no Brasil, tem uma pessoa para te auxiliar, fatiar e ralar o queijo na hora – pedi ao moço pra ralar um queijo lindo e maturado que estava sob o balcão e ganhei uma bela “mão de coxinha” acompanhada de uma bronca na qual eu só entendi “- Esse queijo não se rala senhora”. E sem saber onde enfiar meu nariz pedi o parmeggiano ralado.
Não entendia porque tanta “grosseria”, porque negar o queijo no restaurante, porque o senhor do mercadinho de La Spezia se recusou a vender ravioli e molho de tomate ao meu marido e mandou ele pegar o burro (manteiga) na seção de frios. Ou porque os italianos ficam extremamente “putos” com os americanos colocando abacaxi na pizza.
A verdade é que para eles a comida italiana é sagrada, aquela receita tradicional tem um motivo para ser daquela forma. Pense no trabalho que deve dar para rechear cada ravioli, para o turista estragar tudo colocando molho de tomate e desaparecendo com todo o sabor do recheio.
Enquanto no grupo do ClubHouse de brasileiros na Itália o povo discutia sobre economia, importação, exportação e empregos. No grupo dos italianos nascidos lá a discussão era sobre o que cada um tinha jantado durante a semana.
Comida é a vida do italiano. Ou, a vida do italiano é comida. Comida é vida!
O rito do jantar italiano
Em noites especiais os italianos saem para fazer a sua tradicional “passeggiata” em que eles se arrumam super bem e saem caminhar a passeio, encontram os amigos sentam em um bar no qual iniciam o ritual do jantar com um aperitivo (um drink acompanhado de “belisquetes”). A bebida alcoólica serve para abrir o apetite.
Na minha infância minha mãe dava o famoso Biotônico Fontoura para abrir o apetite, que na época tinha álcool na composição. Quem lembra dessa época?
Depois do aperitivo, os italianos vão ao restaurante, previamente reservado, e dão início ao jantar. Começando pela entrada que pode ser um belo pão com manteiga, depois o primeiro prato que geralmente é de massa, passando pelo segundo prato que geralmente é carne acompanhado de salada ou legumes, a sobremesa e por fim, ainda no restaurante, toma-se um café espresso.
Tem aqueles que ainda façam um último drink no bar depois de sair do restaurante para tomar o digestivi (digestivo), uma bebida amarga à base de ervas que pode ou não ser licorosa e que ajuda – segundo os italianos – na digestão.
Todo esse ritual do jantar pode levar mais de 4 horas de duração, um verdadeiro evento gastronômico!
Outros costumes gastronômicos
Diferente do Brasil onde no café da manhã a gente costuma comer salgados, um pão de queijo, um misto quente ou aquele pãozinho com manteiga. Na Itália a colazione mais tradicional é feita com cappuccino (que é só café, açúcar e leite espumoso) e cornetto doce (não o sorvete, mas uma espécie de croissant ;p), ou ainda chamado de brioche no norte.
E nem pense em tomar cappuccino a tarde, cappuccino é só de manhã para não engordar. À tarde é só uma ou 10 xícaras de café espresso.
A família italiana
Falando em comida, não tem como dissociar a família italiana da comida.
Uma tradição que nós também herdamos dos nossos antepassados.
Para os italianos a mesa é o lugar de reunir a família e a refeição é uma forma de demonstrar amor.
Diga aí se na sua família não é assim?
Também é na mesa que se educa. Onde as crianças aprendem a esperar os mais velhos se servirem e onde só se começa a comer depois de estarem todos servidos.
Lembro de um episódio do podcast Pensieri e Parole, feito pela italiana Linda Riolo, onde ela conta a sua experiência de morar em Londres em uma casa de estudantes, com pessoas de diferentes culturas. Na qual a primeira coisa chocante que notou foi que cada um comia no seu horário, sem cerimônia.
Na Europa em geral há um incentivo para que os jovens saiam cedo de casa e vivam as suas próprias experiências e responsabilidades. Só que na Itália isso é mais difícil de acontecer.
Isso porque a família italiana é muito unida e um tanto quanto controladora.
O núcleo familiar italiano vai além do pai, mãe e filhos, também se estende para avós, tios e primos, que se reúnem com frequência. Aquela família com todas as suas benesses e seus problemas.
Família até no nome
Ao pesquisarmos a nossa genealogia familiar é comum encontrarmos uma dezena de parentes com o mesmo nome e sobrenome (homônimos), isso acontece porque é tradicional da cultura italiana homenagear os parentes colocando o nomes deles nos filhos.
Tem até uma tradição antiga em que o primeiro filho homem recebe o nome do avô paterno, a primeira filha mulher recebe o nome da avó paterna, ou se for a primeira filha do casal pode receber a versão feminina do nome do avô paterno.
O segundo filho homem recebe o nome do avô materno e a segunda filha mulher da avó materna.
Agora imaginem nessas famílias grandes em que os pais tinham de 10 a 20 filhos, esses 10 a 20 filhos tendo mais uma “penca” de filhos e batizando todos os primeiros filhos com os nomes dos avós paternos. Quantos primos e primas com o mesmo nome devem existir? Muitos!
Crenças italianas
A Itália é um país extremamente religioso. Tem praticamente uma igreja em cada esquina.
Essa fé e devoção é presente nas datas comemorativas, em festividades e até nos nomes dados aos bebês.
Se o bebê nasceu próximo do Natal? Vem aí um Natalino ou uma Natalina. Se nasceu próximo da páscoa? Paschoalino ou Paschoalina. Dia de Santo Antônio? Então Antonio ou Antonia será. E assim por diante.
Não é uma regra tá, mas é bem tradicional da cultura italiana!
Além da devoção religiosa cristã, os italianos têm em sua cultura uma raiz pagã, herança dos povos que ocupavam o território da península italiana antes da adoção do cristianismo.
Até hoje os italianos têm uma crença muito forte em sorte, azar, castigo divino e predestinação.
Apesar de contraditórias, as crenças religiosas e supersticiosas convivem lado a lado na cultura italiana. No Brasil também, quem nunca prendeu o São Longuinho e deu 3 pulinhos?
E em meio a isso, existem personagens folclóricos como a Bruxa Befana que na noite do dia 5 de Janeiro “aparece” nas casas para dar doces para as crianças comportadas e carvão para aquelas que não se comportaram. Quase como um São Nicolau ou como o Papai Noel.
Outros eventos comemorativos
Além das festas religiosas e da noite da Befana, a Itália é cheia de eventos festivos tradicionais, principalmente ligados às mudanças das estações do ano e à colheita, onde as festas trazem os sabores da produção sazonal local.
Festas de grande importância, principalmente quando pensamos no contexto histórico das produções escassas em um país de invernos rigorosos.
Aqui no Brasil as famílias colonizadoras também mantiveram a tradição de comemorar as produções com a festa da Uva, do Trigo e tantos outros festivais regionais.
Ainda falando de Itália, por lá também é tradição festejar as antigas batalhas medievais, resgatando as bandeiras das principais famílias de cada região.
Conclusão
A leitura que eu faço da Itália é que de certa forma é um país que preserva seus valores tradicionais, que valoriza sua cultura culinária, valoriza os laços familiares e valoriza a sua fé.
É um país que apesar de ter uma união tardia, iniciada com a formação do Reino da Itália em 1861 e concluída em 1919 com a anexação do Trentino e da Ístria, já tinha um legado cultural italiano, mesmo antes de se tornar oficialmente um país.
O desejo de retomada dos valores do Império Romano é visto claramente no esforço gigantesco que foi feito para a conquista da região do Lazio, que pertencia a Igreja Católica e que foi tomada a força para que Roma fosse a capital da Itália.
Apesar das diversas regiões com suas diferenças culturais e identitárias significativas, a população italiana se uniu sem “grandes conflitos”, pois havia o desejo maior de união, os mesmos valores familiares e religiosos estão presentes de norte a sul do país.
E o que faz de um país um país, se não a união cultural do seu povo?
Ainda sim, cada região italiana preserva e valoriza o que os torna únicos, a sua comida, o seu dialeto, os seus santos padroeiros e as suas belezas naturais.
É isso que mais me encanta na Itália e que me faz sentir em casa quando eu estou por lá.
Mesmo sabendo que eu como ítalo-brasileira sempre serei diferente, uma parte de mim sempre trará as raízes italianas herdadas de muitas gerações.
Um abraço, espero que tenha gostado do artigo e se gostou continue acompanhando o Italinha!
E me conte aqui nos comentários quais são os costumes italianos que a sua família ainda preserva?